terça-feira, 1 de julho de 2008

1958: dever para casa

Por dever cívico, o filme de José Carlos Asbeg, “1958 – o ano em que o mundo descobriu o Brasil”, deveria ser obrigatório. Todo brasileiro deveria ser chamado a assistir a primeira conquista do título de campeão do mundo de futebol, pela seleção canarinho. Que, aliás, naquele 29 de junho, jogou pela primeira vez de azul, deixando a prerrogativa do amarelo para os donos da casa, a Suécia.

Ali, nas imagens pigmentadas e corroídas pelos 50 anos que nos separa do dia chuvoso e mágico, estão lições de um patriotismo que leva o espectador às lágrimas. A saber: aqueles que ainda trazem no peito algum “romantismo piegas” e um amor profundo pelas nossas cores. Os “fora-de-moda”, naturalmente.

Difícil ficar imune à interminável caminhada de Didi, bola debaixo do braço, corpo ereto, passadas largas e ritmadas, rumo ao conjunto atônito de companheiros, num desfile que supera dez “7 de setembros”. É só dignidade, elegância, convicção.

Por sua cabeça, pelo filme, hoje sabemos, passavam mensagens do tipo: deste minuto em diante só sairemos daqui vitoriosos. O discurso, eloqüente em seu peito, mas mudo e solitário, desesperou Zagalo, que com gestos típicos de quem pôs o coração na ponta da chuteira e entrou em campo vestido de Brasil, implorava que ele soltasse a bola, que os deixassem partir para cima do título.

Sem palavras, Didi não se abalou. Conseguiu com seu gesto rearrumar o time e demonstrar que a partida começava, na verdade, no instante em que colocou a bola nos pés de Vavá, para uma retomada que mudaria toda a nossa história. Naquele momento, ao qual emprestou toda a solenidade que seu porte de príncipe etíope permitia, Didi era um brasileiro pleno de consciência de sua responsabilidade para com a torcida enrodilhada em torno de rádios, pois as imagens da TV ainda viajariam muito até serem exibidas por aqui.

Não esperem do filme um texto elaborado, escrito premeditadamente para comover a platéia. A grande sacada do diretor foi saber que qualquer adjetivo ali soaria descabido. Asbeg nos mostra suecos de cabeça branca se divertindo, ainda hoje, em contar que foram driblados de forma inacreditável, por um Mané quase infantil em sua felicidade e arte de colocar os adversários em fila num espetáculo patético de maestria e ginga. Ganha o público, que se delicia com o ar reverente dos suecos, confessadamente gratos e comovidos por terem, um dia, anexado às suas histórias o privilégio de dividir o mesmo campo com jogadores do top de Garrincha e Pelé.

Nascia o rei. Todo jovem deveria assistir a emoção de Pelé, um garoto franzino, de 17 anos, abrindo o berreiro e esguichando lágrimas pela conquista prometida a Dondinho, seu pai. O texto de “1958” é o discurso das imagens. De um civismo que deveria ser exibido nas escolas, nas empresas, no Congresso, nos rincões, para resgatarmos o amor ao Brasil que ensopou aquelas camisas azuis, de escudos costurados à mão.

O filme 1958 o ano em que o mundo descobriu o Brasil recebeu apoio do BNDES.
Por: Denise Assis

3 comentários:

Anônimo disse...

Queria saber se este filme será exibido em Florianópolis. Se tiverem alguma previsão, gostaria que me avisassem, por favor. Meu e-mail é mosantos25@yahoo.com.

Parabéns pela iniciativa e, de antemão, pelo resultado.

Abraço,
Marcelo Santos

Anônimo disse...

Sou funcionário do BNDES e vi o filme na pré-estréia que passou no auditório do Banco. Empolgado com o futebol de altíssima qualidade, empreendi um projeto interessante. Baixei a íntegra do jogo final e sincronizei com a maravilhosa narração original da Rádio Nacional. Se alguém estiver a fim de assistir, me contate em 1958final@gmail.com (não estou vendendo nada, apenas a fim de levar este material ao maior número de pessoas)

Marcelo Goldenstein disse...

Corrigindo a mensagem anterior, o e-mail é final1958@gmail.com